quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A DITA CUJA

Márcio era um canalha. Canalha mesmo! Com «C» de «Cachorrão». E o pior era que ele era um cara perigoso, daqueles ardis que são capazes de interpretar qualquer personagem para obter a conquista que o interessa no momento. Mas, até Márcio, haveria de penar com Gisele. Ela se dizia santa, fazia o tipo beata, daquelas que é «glória» para cá, «aleluia» pra lá. Mas, o corpo de Gisele era um pecado escancarado, verdadeiro despudor divino, dotados dos exageros exatos nos traços fundamentais da estética feminina. Pensem numa bunda!

Márcio a viu de passagem, num domingo, quando a mesma voltava do culto. Nem a viu direito, mas quando ela passou... «Meu Deus! Que dorso era aquele!» Pensou... Pensou... Deu a volta no quarteirão correndo, quando fez dois lados do quadrilátero urbado, avistou Gisele. Diminuiu a marcha. E quando estava cruzando com seu alvo, soltou a isca:

- Moça, eu estava procurando um templo...

Logo, foi interropido pela jovem:

- O da Santidade Maior da Graça Divina do Senhor?!

Ele, estupefato com a beleza de Gisele, disse:

- Esse mesmo!

Ela retrucou:

- Fica na rua paralela, acabo de sair de lá, que coincidência! Mas hoje nem tem mais culto...

A bela santidade era uma tagarela quando o tema era religião. Enfim, naquele encontro Márcio conseguiu o telefone dela e o acerto de irem ao culto no domingo seguinte.

Foram meses de uma atuação impecável. Márcio traçou a seguinte linha performática: era um ex-viciado em sexo. Seu pecado era a luxúria! Mas na fé, encontrou solução para o problema. A amizade religiosa virou um namorico santo. Nessa fase, sob o pretexto de se entregarem em alma, Gisele pedia que Márcio «confessasse» seus maiores pecados pretéritos. Enquanto ele e sua mente insana produziam as estórias mais calientes que era possível de se imaginar, a sua dileta ouvinte fervia. Era uma erupção contida, que provocava uma implosão nervosa, como resultado de uma profusão de sinapses.

Gisele não era virgem. Ledo engano amigos inocentes! Ela tinha sido uma garotinha levada. Obviamente, sua versão era outra. Disse a Márcio que um garoto tinha se aproveitado dela. Que ela só tinha quinze anos e, por isso já se penitenciou muito, etc.

Passo a passo, Márcio conseguiu evoluir nas carícias. Até que a coisa perdeu o controle. Estavam na casa dela, quando a mãe da santinha saiu para ir ao salão. Teriam, pela primeira vez, umas três horas para se dedicarem ao prazer. Não deu outra! Gisele tirou toda a armadura têxtil que a envolvia. Restou só a blusinha, entre um amasso e outro, já estava de calcinha. Ela usava uma cinta-liga! Márcio incendiado já estava nú fazia tempo! Ela o manipulava literalmente com fervor. Ele, então, rasgou-lhe a calcinha e a possuiu com vigor. A bela Gisele, quando deu por si, já estava tomada por uma energia cósmica indescritível e gritava:

- Ai! Ai meu Deus! Meu Deus! Ai!

Márcio enlouquecido de excitação soltou a pérola:

- Vou foder essa buceta, sua gostosa!

A máscara caiu. Foi como um sinal de alerta, mais, um sinal vermelho de perigo, um alrme. Gisele o empurrou, afastou-se e disse:

- Nossa! Marcinho! Que coisa mais feia! Que pecado! Meu Deus, o que távamos fazendo!?? Viu só? Você já estava me tratanto como uma meretriz!

Márcio inquieto, ofegante e arrependido:

- Meu amor! Me desculpe! É que você me deixa louco! Perdoe-me! Venha aqui...

Ela retrucou;

- Não! Não está certo! Estamos em pecado. E o que você falou foi horrível...

Ele investiu:

- Minha santinha, eu te amo! Você sabe disso! Venha aqui!

Começou a beijá-la. E logo ela foi cedendo... até que a entrega foi total novamente. Voltaram os «Ai meus Deus!». De repente, ela o empurra novamente e fala:

- Nunca mais fale aquilo! Ouviu Márcio Cruz!??

O crápula então se superou, nos seguintes termos;

- Ou meu docinho... Me fale então como eu chamo essa graça que você possui aqui? Tão... ai... tão fervorosa, linda... me diga!

Sem raciocinar mais direito, a Gisele em êxtase respondeu;

- Chama ela de «dita cuja»!

Márcio finalmente bradou:

- Hoje será o apocalipse meu bem! Sua «dita cuja» finalmente encontrou minha «dita dura»!!!

Lá ao longe, um vizinho escutou em tom estridente um «Amém!!!». Achou que era mais uma celebração da imaculada Gisele. Não sabia ele que a «DITA CUJA» estava em redenção.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

REFLEXÃO

Em momentos diversos de nossa vida, deparamo-nos com o vírus da reflexão. Trata-se de uma patologia humana de cunho avaliativo que, para alguns, pode ter definição naquilo que chamamos de «consciência». Determinados momentos de nossa vida estamos mais susceptíveis a tal sorte. Um deles, sem a mais mínima dúvida, é nosso aniversário. Eis, então, que aqui estou: vitimado pela reflexão.

São trinta e dois invernos somados a trinta e um verões, uma avalanche de emoções, muitos amigos e poucos arrependimentos. Qual o resultado dessa fórmula? Ouso pensar que é, primeiramente, gratidão. Sou grato por tudo que vivi. Pelos momentos de dificuldade que tanto me fortaleceram, pelos prazeres tantos que experimentei, pelos lugares que caminhei, pelos papos que fora joguei, pelas dores que senti, pelos beijos e abraços que presenciei.

Mas é inegável a mim mesmo, ou seja, não consigo me enganar se também, não atribuir a essa fórmula um outro resultado: a amizade. Confundo, sinceramente, amizade e amor dada a força e hipertrofia que aquela apresenta em minha existência. Tento ser amigo, pois o que busco desde cedo é encontrar amigos. Sou amigo de meus familiares, pai e mãe, irmãos e demais. Assim os tenho hoje: grandes amigos. Meu filho é meu melhor amigo, com ele tento viver e sentir o que de melhor posso me permitir. Minha namorada é minha grande amiga. Mas, e meus outros amigos? São do bairro, da infância, do colégio, da faculdade, do handebol, do judô e jiu-jitsu, da noite, da faculdade, do trabalho, enfim, de toda uma vida. São todos irmaõs, consequentemente, tornaram-se família também.

Eis a equação síntese de minha reflexão: gratidão + amizade = felicidade. Estou feliz. Não posso esconder. A gratidão ao Grande Arquiteto pelas amizades que me propicia. Aprendi que é falsa a máxima de que «poucos serão seus amigos numa vida». Pois, um só amigo é muito, um tesouro tão valioso e suficiente que deve ser sempre preservado. Que eu consiga ter a sabedoria de resguardar, fortalecer e vivenciar cada uma de minhas amizades, pois o valor do que possuo é inestimável. Assim, entre vocês, meus amigos, sou feliz e me sinto verdadeiramente amado. Obrigado!
 
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