
Amanda era manicure do salão que Anselmo freqüentava. Afinal, o macho pós-moderno faz unhas e culpa a higiene. Ele sempre esperava a fila andar, mas não abria mão da habilidade de Amanda. Morena, olhos verdes amendoados, corpo de princesa, e um sorriso de mulher que sabe das coisas. Anselmo se esforçava para convencê-la a aceitar um passeio, mas ao fim aquela voz adocicada e provocante sempre dizia “Não, meu bem” ou “Não posso hoje, infelizmente!”...
As investidas semanais continuaram infrutíferas, por meses. Anselmo, então, resolveu radicalizar, idealizou uma tática kamikaze. Passou a levar sua namorada ao salão onde Amanda trabalhava. Enquanto a namorada se entregava as máquinas do salão, Anselmo investia:
Amanda indignada rebatia:
- Você é mesmo um cafajeste...Repugnante isso...
Ele respondia:
- Cafajeste não! Sou canalha! E dos bons! Ouviste, Mandinha?
Anselmo não desistia. Continuou levando a namorada. Até que, ao fim de dois meses, as coisas mudaram de figura. Naquele dia Anselmo falou:
- Sonhei com você. Foi ontem, Amanda... Sabe o que acontecia?
Amanda tentou repelir:
- Não me diga! Ou conto para ela agora e aqui.
Anselmo blefou magistralmente:
- Vai em frente... Conta... Agora conta tudo que te disse... tudinho... hoje e sempre...
Amanda respondeu:
- Você é mesmo um canalha. – Neste momento ela arrebentou um pedaço da unha de Anselmo que engoliu um grito heróico – Pior que é um canalha muito charmoso. Quer mesmo me ver?
Ainda entre a dor da unha e a surpresa da pergunta, Anselmo balançou positivamente a cabeça, com os olhos lacrimejando de dor. Amanda arrematou:
– Pois bem, próxima semana vem sozinho, acaba com ela. Ouviu!?

Não havia hora, nem lugar. A fómula era simples. Anselmo + Amanda = Sexo + Amor + Desejo. O que parecia loucura, resultou em casamento. Os amigos dele não podiam crer no que se passava e na velocidade em que tudo aconteceu. Foram só dois meses de namoro! O atlético mulherengo, de antes, vivia cansado e mancando, mas extremamente feliz. Aquela unha bendita nunca mais deixaria de encravar. E por mais que ele solicitasse a Amanda que interviesse em sua sina calista, o encrave resistia.

O certo é que sua bela e fogosa esposa, misteriosamente, nunca solucionaria o problema. Porém, nos momentos íntimos e tórridos, Amanda lambia o dedo penitenciado, vagarosamente. Numa assepsia caliente, sem qualquer pudor ou receio, além de alheia ao riscos bacteriológicos e fúngicos, ela entregava sua alma pela ponta da língua. Noutro norte, o castigado amante, no prazer do alívio, estava, cada vez mais, loucamente apaixonado.