terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jesus encontra Zaratustra

Num lugar perto do longe um encontro quase surreal foi sacramentado. Poucos poderiam prever, mas alguns saberão, ao tempo devido, refletir acerca das conseqüências transcedentais deste único diálogo.

Lá estava Zaratustra debaixo de uma jaqueira farto ao lado de dezenas de caroços. Jesus se aproximou, olhou Zaratustra com seus francos olhos negros, sorriu de forma fraterna como só ele sabia, foi quando ouviu o balbucio do profeta:

- Se queria jaca já era... acabou... a última comi nesse instante.

Jesus com extrema simpatia esclareceu:

- Não, não amigo. Venho caminhando faz um bom tempo e fui atraído pela sombra desta linda árvore. Posso compartilhar?

Zaratustra respondeu prontamente:

- Pode sim. Mas só evite ronco e flatulência, pois estou no desjejum.

Jesus gargalha e se encosta ao tronco, e pergunta:
- O amigo o que faz?

Zaratustra respondeu:
- Faço minha parte na missão te todos. Esclareço, levo o que sei a massa ignorante dos humanos que ainda não percebem a existência do super-homem.

Jesus:
- Entendo esta dificuldade de ensinar. As pessoas se julgam cientes de tudo e temem mudanças, não é fácil apresentar-lhes os ensinamentos de meu Pai.

Zaratustra:

- Seu pai era profeta? Professor?

Jesus:
- Meu Pai é o Criador de tudo e de todos. É seu pai também.

Neste momento Zaratustra, interrompeu:
- Meu acho que não. Deus? É ele?

Jesus:
- Este é o seu nome mais popular.

Zaratustra:
- Você num herdou muita coisa, né?

Jesus:
- Bem, herdei a luz, o caminho, penso ser muito mais que preciso.

Zaratustra:
- Mas luz não enche barriga, e caminho dá é calo no pé. De qualquer forma meus pêsames.

Jesus:
- Pêsames?!

Zaratustra:
- Ora, claro! Pela morte de teu Pai.

Jesus:
- Mas irmão, ele não morreu. O seu Espírito é Santo e imortal. Continua vivo em mim, e você...

Zaratustra:
- Em mim mesmo não... A verdade é que você está só no mundo.

Jesus:
- Velho andante. A solidão te arrebatou a noção do mundo eterno.

Zaratustra:
- Nada é eterno... A solidão me fez compreender que o super-homem governa a si próprio e não merece por isso nenhuma compaixão.

Jesus:
- Façamos um trato irmão. Liberte-se de seus preconceitos e abra seu coração para as palavras que agora direi...

Zaratustra:

- Ô menino danado! Que abrir coração! Meu coração é forte e já não se emociona com hipóteses. Mas façamos um trato... Tu silenciarás e venerarás teu Pai. Eu celebrarei o super-homem, e assim viveremos em paz neste mundo.

Jesus com um largo sorriso nos lábios:
- Como queira velho andante, o tempo nos pertence, a paz temos realmente que conquistar. Mas um dia se entregarás ao amor do Pai. Pois, ao fim só há conforto na fé.

Após estas palavras, encostados na jaqueira, Jesus e Zaratustra tiraram um merecido cochilo.

3 comentários:

  1. Grande Cabral, finalmente consegui ter acesso ao seu blog. Muito bem escrito. Talvez o estilo pudesse ter um pouco menos de preocupação em detalhar informações para o leitor e um pouco mais com a fluidez do texto. A sonoridade tá muito boa, talvez capriche um pouco mais no ritmo do enredo. Você tá muito bem, a estética mistura elementos regionalistas bem autênticos com um quê de "marvel e DC comics" e claro, Nelson Rodrigues. Muito original, gostei bastante. Grande abraço.

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  2. Seu melhor texto até agora, parabéns. Você poderia continuar essa série de debates Jesus e Zaratustra (no próximo, debateriam " a morte de Deus", por exemplo), abraços....

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  3. Gostei muito.Na verdade vc tem um estilo muito interessante e peculiar. Parabéns!

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