sexta-feira, 23 de março de 2012

NADA MAIS PARA SEMPRE

Foi terminando o ontem e eu, lentamente, fui me distanciando de minha sombra, como se nenhum mínimo controle eu mesmo exercesse sobre mim. É que os últimos momentos não me foram felizes. Restou-me a mim totalmente dilacerado e rendido diante da natureza angustiante do ego. Chovia, muito e um bocado mais, a cada relance do mundo espiado por minha janela. Inclusive, o que parece permanecer é o observar. Não sou mais observado. Ninguém me percebe. No entanto, eu nunca antes percebi tanto. Em verdade, acho que percebo tudo, agora.

De longe sentia o asfalto molhado, ele que me mantinha frio. Sim! Ainda estou gelado! E quem está quente neste inferno gélido de toscas compreensões e nenhuma tolerância?

Somos todos tão desiguais e insuportáveis. As minorias se agregam e se multiplicam, no fim somos todos minoritários. O coletivo é vazio e caótico como o desespero. A alegria findou-se por ser cristal raro, digitalizada e exposta nos murais do Facebook, em uma mera e insensata tentativa de prolongamento. Esquecem-se do tempo. Ele tudo corrói. Não restará pedra sobre pedra, byte sobre byte.

Quando eu me pergunto por que disse isso? E, quando disse, de que adiantou?

Num tempo tão, indeterminadamente, curto e num espaço tão, estreitamente, infinito, tem sido um prazer intenso compartilhar comigo mesmo, e comigo apenas, as amarguras dessas dimensões. Ninguém , nem mesmo você, chuva companheira que me escuta com sua paciência duvidosa. Somos apenas massa. Temos pouca força e quase nenhuma aceleração. Somos impotentes. E onde devo aderir? Não parece haver espaço no desfile de corpos perfeitos de estereótipos inexequíveis e patológicos. Esta inadequação, antes fosse pessoal, mas assola o meu tempo. Criou-se um mundo, onde o tempo já não é suficiente.

Certamente, não há certeza. Somos navegantes ou navegados? Seremos adubo ou transcenderemos? Perguntas demais para pouco saber. Todas as tentativas, até hoje, não passaram disso apenas: uma tentativa. E somos todos tentados a tentar. A cada dia, eu tentei. Mas minha tentativa foi tão ordinária quanto as mais brilhantes que me precederam. Afinal, não somos todos os mesmos? Não repetimos as fórmulas que nos ensinam? Ou não nos foi ensinada, tantas vezes, a felicidade?

Os felizes, os mais felizes, sabem pouco.  Dessa forma, sublimam a existência que se apresenta como um processo de desconstrução da felicidade inata. Toda alegria, depois da realidade, é hipocrisia. No máximo, um ensaio de retorno. Nada mais para sempre.

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