domingo, 18 de julho de 2010

O DIGNÍSSIMO

O dia começou acelerado para ele. Hoje era o grande dia. Finalmente, ele iria encontrar Alice. Alan era um cara bonito, alto, bom papo, extrovertido. A questão era: Alice não era sua namorada. Sua namorada era Paula. Paula, por sua vez, era linda. Realmente era de uma beleza angelical, detentora daqueles rostos instactos, imaculados, que só as meninas mais santas podem ter. Paula era para casar! Mas, Alice era uma coisa! Uma coisa diferente, mas uma coisa... Alice era para se pegar. Assim, Alan estava decidido: pegar Alice, casar com Paula.

O nó górdio era que Alice não sabia de Paula. Obviamente, a recíproca deveria ser necessariamente verdadeira. Por isso, Alan ligou, logo cedo, para Paula:

- Amor, o dia tá uma correria! Vou tentar acabar tudo para nos vermos a noite! Como você está? Tudo bem? Que bom...

No início da noite, Alan ligou para Alice e combinou de se encontrar com ela num bar. Disse que iria logo após um jantar de família, aniversário de um primo querido. Sabe como é... Em seguida, ligou para Paula:

- Paixão, vou chegar cedo, hoje, aí! Tou cansado. Senão acabo dormindo, ok? E quero muito lhe ver! Beijo, amo demais!

Alan chegou em tempo para sentar-se à mesa durante o jantar. Comeu muito, dizia-se faminto. Paula, sempre mimando-o oferecia um pãozinho, uma sopinha, etc. Logo após a ceia, foram para a sala, quando o telefone dele toca. Ele olha o visor e não atende. Paula observou tudo, mas acabou preferindo não se manifestar. Eles sentam-se ao sofá e trocam os primeiros beijos, quando, então, o telefone vibra na calça de Alan. Ele não atende. Com poucos minutos, ele se levanta e vai ao banheiro. Paula resolve segui-lo e quando se aproxima do corredor, na frente do banheiro, Alan, ainda no telefone, emposta a voz e fala:

- Poxa, Jack! Vou nada cara! Tou mortinho vou dormir cedo hoje! Beleza? Vou indo.

Jack era o irmão de Alan. Nesse momento, Paula caminhou até o seu digníssimo namorado, deu-lhe um beijo na face e disse:

- Meu bem, você tá cansadinho, né?! Então vou lá pro quarto que também quero deitar cedo hoje.

Então Alan respondeu:



- Já meu docinho!? Tudo bem... Vou conversar com seu pai, no terraço, depois vou lá me despedir de você.

Ela para o quarto, ele para o terraço. Alan, então, ligou para Alice reforçando o encontro. Falava baixinho. Enquanto isso Paula estava no MSN, puta da vida. Sabia que estava sendo enganada, mas não sabia o que fazer. De repente, «José Acaba de iniciar sessão». José era um colega de academia. Bichozinho perigoso esse. Ela o achava lindo e gente boa, além disso, ele sempre a seguia com os olhos pelo maquinário durante os exercícios. Outro dia, Alan discutiu com ela a razão dele estar adicionado ao MSN de sua amada. Foi uma briga feia, depois nem ela sabia o porquê de ter defendido a adição dele ao seu rol de amigos. Enfim, José começou logo a conversa:

José diz: Boa noite! Como vai a princesa mais bela do Reino?
Paula diz: Boa noite J
José diz: O que você faz aqui essa hora? Namorando não?
Paula diz: Fui abandonada!
José diz: Que pecado! Eu num faria isso.
Paula diz: Não? Faria o que?
José diz: Eu estaria ao seu lado, o mais próximo que fosse possível, que vc deixasse tb lógico
Paula diz: hummmm parece interessante
José diz: seria sim
Paula diz: Mas isso num é possível. Essa aproximação.
José diz: é sim, liga a cam

Paula ligou a webcam e deu um sorriso malicioso que contrastava com sua face angelical. A conversa, então, continuou por um bom tempo, até aqui:

José diz: Vc é muito...
Paula diz: o q?
José diz: linda! E tb outras coisas
Paula diz: vc acha?
José diz: acho e faz tempo, vc sabe disso
Paula diz: sei sim tb acho vc bem interessante
José diz: é?
Paula diz: é, esse seu corpo é bem forte
José diz: isso num vale eu aqui só de short, vc aí embalada na cama. Isso é lençol né?
Paula diz: rsrsrss é sim, mas vc acha que posso me livrar deles?
José diz: demorou gatinha
Nesse momento, enquanto Alan camuflava as ligações em que arquitetava o seu álibi, sua namorada se despia de forma ardente defronte a tela do laptop. Sua beleza invadia o monitor de José que em êxtase manipulava sua masculinidade. O digníssimo ao telefone, ela na webcam, José na mão e a Alice, a outra, sussurrando por companhia. Nessa algaravia frenética e sexual... José tinha tudo. Tinha o corpo lindo de Paula com seu rosto angelical transformado. Seus seios rígidos e firmes. O corpo de Paula era dotado de curvas únicas. Tratava-se de uma sinuosidade afrodisíaca. Seus segredos tão bem cuidados, eram um convite ao amor. José via, não cria, mas queria. Sua carne transpirava, por seus poros escorria o desejo de ali estar entre os lençois do anjo Paula. Pensava em se jogar na tela, só para ter o prazer de sentir a imersão naquele ambiente, que exposto estava na sua bendita frente. Nesse momento, o digníssimo bate à porta. Paula fecha o notebook e veste a primeira roupa que encontra. Abre a porta e fala:

- Oi amor! Já vai?

Alan responde com aquela atuação digna de um Oscar:

- Tenho que ir. Tou morto. Beijinho.

Assim, Alan encontrou Alice. Os dois ficaram algumas vezes, mas logo ela percebeu o seu jogo e nada mais rolou. Paula se entregou a José, primeiro virtualmente, depois teve a dignidade de se entregar pessoalmente de cabeça erguida e sem dúvidas. Até que chegou o dia em que Paula deixou Alan e José foi elevado aos céus, na condição de digníssimo namorado do anjo.

5 comentários:

  1. Alan pensando que era o 'espertão'se deu mal... acabou sozinho! rsrsrrsrs

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  2. Alan se deu mal e nem sonha o por quê...por outro lado a Paula angelical era muito imediatista e logo sentenciou o chifre de Alan com o pretendido bombado da academia...hehehe...E a vida continua....

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  3. Desfecho interessantííssimo... Reproduzindo Bem como a vida continua!!;)

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  4. O interessante é ver a sempre real malícia ingenua dos homens (tadinhos) versos a ingenuidade maliciosa das mulheres.

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  5. Os homens tadinhos, sempre subestimando a inteligência das mulheres. Melhor assim, rs :)

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